quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Sleepless in Paris

6h30 da manhã. Eu, que durmo sempre tão bem, já é a segunda noite aqui em Paris que não consigo dormir. A televisão do Hotel só tem canais franceses. Não trouxe nenhum livro para ler. Acordei às 5 e não consigo dormir mais, sempre a pensar a mesma coisa.Safa-me a internet e uma volta pelos blogs do costume .
Foi desta que criei o meu. Pode ser que escrever ajude a aliviar.
Este blog começa, sobretudo, pela vontade que tenho em partilhar o que está a acontecer com esta minha segunda gravidez tão especial, tão diferente, que nos consome todos os dias. 
Estou grávida de quase 30 semanas. É menina. Vem a seguir ao Pedro que tem quase 2 anos. Esta gravidez é especial porque me foi diagnosticada uma infecção primária por CMV (Citomegalovírus) durante o primeiro trimestre, com infecção fetal confirmada após amniocentese. Deixo uma explicação (pessoal) do que é o CMV para um post posterior. O que é facto é que este vírus pode deixar inúmeras sequelas na bebé... ou nenhumas. As piores passam por paralisia cerebral grave, cegueira, surdez, epilepsia, sei lá. Tanta coisa. O pior pesadelo de qualquer grávida... principalmente se considerarmos um cenário em que essas sequelas acontecem em simultâneo. A interrupção da gravidez tem sido sempre uma hipótese, mas temos vindo a adiar essa decisão sucessivamente enquanto o diagnóstico pré-natal nos permitir, com um relativo grau de confiança, excluir os piores cenários. A interrupção da gravidez por razões médicas é permitida em Portugal até às 24 semanas, altura em que qualquer diagnóstico de possíveis sequelas por CMV é, ainda, muito precoce. Tanto quanto sei, só em França é que é permitida, por razões médicas, até ao final da gravidez. Na altura sentimo-nos pressionados para interromper a gravidez quando saíram os resultados da amniocentese que confirmavam que o vírus tinha atravessado a placenta e chegado ao ambiente intra-uterino. Foi então que a médica do Instituto de Genética nos apresentou a hipótese de fazermos um tratamento experimental (sem garantia de eficácia comprovada) com imunoglobunina anti CMV e adiarmos a decisão da interrupção a favor de um diagnóstico pré-natal menos vago. Caso se viessem a verificar sinais evidentes de doença fetal, poderiamos optar por interromper a gravidez em França, a qualquer altura.
Tem sido angustiante viver esta gravidez assim, sem saber se desta barriga algum dia vai nascer, ou não, esta filha que tanto esperamos. Temos vindo a Paris consultar um obstetra (Prof. Yves Ville, Hospital de Poissy) que é especialista em infecções congénitas por CMV. Já fizémos inúmeros exames (várias ecografias super detalhadas como nunca fiz em Portugal, ressonâncias magnéticas, cordocentese (recolha e análise de sangue fetal) e neste momento tudo parece estar relativamente bem, o que nos permite - para já - excluir os piores cenários. Voltaremos cá às 35 semanas para fazer uma última ressonância magnética que será mais conclusiva do que esta última que, às 29 semanas, ainda é um pouco precoce.

Eu sabia que corria este risco quando criasse um blog. Sou capaz de escrever horas a fio, e não estou a ver quem é que vai ter paciência para ler estes posts intermináveis.
O sol já nasceu em Paris, já está imenso trânsito que esta malta trabalha cedo. Se a greve geral de transportes não nos pregar mais uma partida hoje, pode ser que consigamos finalmente sair daqui da vilória onde fica o hospital e apanhar o metro para Paris. Não faz sentido que já seja a segunda vez nesta terra sem ver o raio da Torre.

3 comentários:

  1. A minha filha também nasceu com cmv, eu fiz uma reinfecção na gravidez, a única certeza que tenho, é que não foi no primeiro trimetre, mesmo assim entendo toda a tua angustia, pois sinto o mesmo. A minha filha está com 7 meses e está a fazer exames auditivos, por enquanto está tudo bem, mas é como tu disses, as sequelas podem aparecer tardiamente, então, estou sempre com o coração nas mãos, vai ser também acompanhada por um oftalmologista e fez a ecografia a cabeça quando nasceu ,deu tudo normal estou sempre atenta ao seu desenvolvimento, mais do que estava com a minha primeira filha, sim ,eu também já tenho uma filha com 3 anos.Gostava de partilhar a minha angustia contigo pois só quem passa por isto é que sabe o que sentimos.
    SF - C.RAINHA

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  2. o que eu estava procurando, obrigado

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  3. Eu estou no Hospital angustiada com meu filinho internado com suspeita de cmv...olhei seu blog e posso dizer que entendo tudo o que você escreveu...no meu caso minha gestação foi gemelar univitelinos ou seja gemEOS IDENTICOS e vou fazer os exames com o meu outro menino.
    Eles tem apenas um mes e 15 dias mas eu creio que se esse exame der positivo as sequelas não irão aparecer porque acredito em um Deus que é fiel e se nós nos dobrarmos e nos ajuelharmos ele tem o poder para mudar toda e qualquer historia...eu tinha um caso das duas trompas obstruidas e não conseguia engravidar e agora depois de muitas oraçoes e diante de diagnosticos medicos dizendo que eu nunca seria mãe posso dizer que continuo a crer no toque das mãos de JESUS...o segredo é orar e confiar que as sequelas nunca irão aparecer porque onde Jesus toca não existe infermidade....espero que o blog esteja ativo para que em meio a angustia eu possa compartilhar uma frase: "CREIO EM DEUS E NO MARAVILHOSO TOQUE DE SUAS MÃOS" ......

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